sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Mumbai
A briga entre Índia e Paquistão é antiga. Data de 1947, quando o país tornou-se independente da Inglaterra. O território foi dividido em dois, Índia para o hindus e Paquistão para os muçulmanos. Até hoje os dois vivem em tensão, com a disputa pelo território da Caxemira. O Paquistão, apesar de muçulmano, é um país aliado dos Estados Unidos. Tanto é que apoiou as invasões no Afeganistão e no Iraque.
O fato é que uma pequena parte do território paquistanês, que faz fronteira com o Afeganistão, é dominada por grupos terroristas talebans, que fugiram de seu país após a dominação norte-americana. O que liga alguns paquistaneses e afegãos, além da religião, são antigos vínculos tribais e étnicos.
O governo indiano já lançou os primeiros comunicados acusando “forças estrangeiras” como apoiadoras dos atentados. Um recado claro ao Paquistão. Não custa lembrar que ambos os países possuem a bomba atômica e um aumento na tensão entre os dois países não é interessante para ninguém, com exceção dos talebans.
Os atentados têm a estratégia parecida com os da Al Qaeda. Atacar os centros econômicos e importantes de grandes cidades, com forte presença internacional. Imagino que o objetivo seja abalar as relações entre os países e instaurar o medo na população e nos estrangeiros.
Quando mais fechados forem os países do oriente ao ocidente, melhor para os radicais. Menos influência da cultura americana, menos prosperidade econômica, menos oportunidades, menos mudanças. E mais terreno para o crescimento do radicalismo e de uma população sob controle. O que aconteceu com o Afeganistão na era dos talebans no governo é o melhor exemplo.
É um assunto complexo, com vários interesses e relações de poder – religioso, político e econômico - envolvidas. E, infelizmente, muitos inocentes no meio.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Entrelinhas
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
O consumidor e a cenoura
É aí que entram em cena alguns ingredientes interessantes da nossa economia e do próprio povo brasileiro. Com a crise mundial, os Bancos Centrais de todo o mundo baixaram as suas taxas de juros para dar mais liquidez ao mercado e facilitar o crédito. O BC brasileiro não baixou. Deixou tudo como estava. Ou seja, continuamos, cada vez mais, campeões mundiais da taxa real de juros, com nossos 13,75% de juros ao ano. Quem ganha com a taxa alta? Os bancos. E há alguns anos os maiores bancos brasileiros, privados e estatais, vem registrando recordes de lucros. Deve ser um bom negócio ter um banco.
O outro ingrediente dessa história é o próprio consumidor. Os brasileiros são muito bons em pesquisar e comparar preços. Em correr atrás do menor preço entre as várias lojas concorrentes. Em compensação, são bem fracos na hora de calcular os juros embutidos nos financiamentos. Se o país já é ruim em matemática no geral, a educação financeira praticamente não existe. A maioria das pessoas não se interessa em saber quanto vai pagar a mais para parcelar o produto. Se a prestação da casa, do carro, do eletrônico ou da roupa “for do tamanho do bolso”, o problema está resolvido.
O que nos leva de novo ao banco da loja de departamentos. No Brasil de hoje, a regra mais básica do capitalismo já mudou em alguns setores. O grande negócio não é mais comprar por R$ 1 e vender por R$ 2. Mas sim, vender por R$ 2 e fazer o consumidor pagar R$ 3, ou R$ 3,5, ou onde os juros levarem. Em alguns negócios, o produto físico, a mercadoria, virou apenas a cenoura que vai atrair o consumidor para o verdadeiro pote de ouro: o financiamento.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Subprime brasileiro?
Aproveitando a boa maré na economia mundial antes da crise, o crédito fácil e baixa na taxa de juros para financiamentos de bens duráveis como carros e casas, os brasileiros estavam consumindo como nunca. Muitas pessoas resolveram surfar a onda de bonança e assumir vários financiamentos e prestações para realizar seus sonhos. Segundo o Banrisul, o número de cotas de seus consórcios de imóveis e automóveis aumento 240% de janeiro e outubro em relação ao mesmo período do ano passado, o que comprova a sede com que as pessoas foram ao pote. Mas com o aperto no crédito que a crise mundial já está provocando, o consumo interno pode despencar. E muito.
Infelizmente, alguns números já começam a surgir. Segundo a Fenabrave, a venda de carros 0km caiu 11,58% de setembro para outubro. A inadimplência aumentou 4,9% de setembro para outubro e 6,9% em comparação com setembro de 2007, de acordo com levantamento da Serasa. O consumidor mostra que está mais inseguro em relação a crise mundial. E o dinheiro já está faltando para pagar as contas.
Mas, o que torna essa situação mais delicada é um velho e mau hábito brasileiro. Segundo a recente pesquisa Consumer Watch, do Latin Panel, 74% dos brasileiros não poupam nada da sua renda. E dos que poupam, 26% conseguem economizar menos de 10% do que ganham. O país tem suas reservas cambiais para agüentar o momento de vacas magras. Mas o brasileiro, não tem este colchão. O resultado de uma crise mundial + consumidores endividados e sem poupança para pagar as suas dívidas ou cobrir um eventual contratempo deixa o cenário não muito otimista.
Tudo o que o Brasil não precisa é uma diminuição das suas exportações somada com a diminuição do consumo interno. Isso simplesmente travaria não só a economia como o próprio país. É por isso que vemos o presidente Lula e o Ministro Guido Mantega apelando veementemente para a população continuar consumindo.
O Governo já está atuando para liberar linhas de crédito e não deixar a economia travar. Mas o alívio só viria mesmo com a melhora no cenário externo. A crise mundial, apesar de séria e real, tem alguns fatores psicológicos também. O melhor que se pode fazer é torcer para que as primeiras propostas econômicas do presidente Obama sejam consistentes e animem o mercado em janeiro. Até lá, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Celebridades puxando nossas orelhas
Vendo alguns dos comerciais premiados de Cannes este ano, percebi algo interessante. Vários comerciais usavam músicas famosas. Inclusive, dois dos meus comerciais preferidos tinham músicas famosas, interpretadas pelos próprios artistas, como trilha.
Até aí, nada demais. Já que o uso de canções conhecidas pode ser considerado mais uma fórmula que uma grande estratégia criativa. Mas, quando o som daquela banda conhecida é bem escolhido e usado de maneira pertinente, como foi em Cannes, a peça ganha a um outro nível de eficiência e sucesso: com os publicitários e com o próprio público.
Uma das respostas para isso pode estar em uma frase de Tonny Bennett, citada em uma palestra no mesmo festival de Cannes: "a música é a mais acessível das artes. Vai direto ao coração". Usando o Tonny, dá para dizer que o uso de músicas de sucesso nos comerciais pode ser definido como um "aluguel de emoção".
Pegue todas as emoções que uma música conhecida faz as pessoas sentirem, a lembrança dos momentos especiais e a relação que os fãs têm com seus ídolos, misture e transfira tudo para a marca do anunciante. Esse é o poder que uma música que já está na memória e faz parte da vida tem. O melhor exemplo disso são dois comerciais que ganharam Leão de Ouro este ano.
O novo comercial da linha de TVs Sony Bravia, leão de ouro no festival, tem nada mais nada menos que os próprios Rolling Stones cantando "she´s a rainbow". O Gran Prix desse ano, o Gorila para a marca de chocolates Cadbury, tem como trilha uma música do Phil Collins.
Na minha opinião, o comercial da Sony deste ano superou o comercial do ano passado, aquele onde um prédio inteiro era pintado por explosões de cores. E que, inclusive, chegou a rolar com uma versão sem áudio, tamanha era a força da imagem. Apesar das imagens dos coelhos coloridos de massinha ser igualmente poderosa, provavelmente o comercial não teria a mesma força sem a música dos Stones, que além de dar clima ao filme, se encaixa perfeitamente com o conceito da marca: colors like no other.
O filme da Cadbury, vai ainda mais longe. Um gorila baterista tocando Phil Collins? Bizarro. Por que Phil Collins? Porque o cara é pop. Porque é famoso. E porque hoje, com quase absoluta certeza, é considerado brega e bizarro pela maioria dos jovens que foram público-alvo da campanha. O mesmo público que, provavelmente, deve ter visto no cinema quando criança o desenho Tarzan da Disney, o menino criado na selva por ninguém menos que gorilas. Com uma música tema ganhadora do Oscar composta por um senhor chamado Phil Collins. Novamente, bizarro, muito bizarro. São tantas camadas de informação que, arrisco a dizer que se a trilha sonora do filme da Cadbury não fosse uma música do Phil Collins, ele não teria feito tanto sucesso, corrido o mundo via internet e talvez não tivesse pegado nem short-list em Cannes.
Deixando o preconceito de lado, os comerciais com canções famosas podem ir muito além do clipe de imagens bonitas com pessoas felizes. Em vez do mico de usar essa velha fórmula, o melhor é pensar no gorila e escolher a trilha do seu próximo comercial com carinho.