sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Justificando o futuro


Apesar dos japoneses terem comprado a maior parte dos estúdios de cinema norte-americanos nos anos 90, Hollywood continua sendo uma arma muito poderosa na propagação da cultura do povo estadunidense e do "american way of life" pelo mundo. Além do entretenimento, os filmes são uma interessante janela, que nos permite enxergar, mesmo através dos clichês e exageros, um pouco do pensamento e do modus operandi da nação dominante do Ocidente.
Nesta terça, sem querer, vi na TV um filme que ajuda a enxergar uma parte do quebra-cabeça que levou aos acontecimentos da ainda recente e quente ofensiva de Israel na Faixa de Gaza. (O governo israelense não é o governo americano, mas ambos são aliados de longa data e parecem ter mais em comum além do mesmo inimigo, o extremismo islâmico.) Regras do Jogo - Rules of engagement, lançado em 2000 - começa com uma revolta no Iêmem, país muçulmano do Oriente Médio. Um protesto de populares acontece em frente à embaixada dos Estados Unidos, que logo se transforma em um ataque, com "terroristas" atirando com seus kalashinikovs contra a embaixada. O embaixador pede ajuda dos mariners, que chegam de helicóptero para resgatá-lo e conter o conflito. Os soldados são recebidos à bala, vindas de atiradores do alto de prédios e também de terroristas infiltrados no meio da multidão. Quando o terceiro oficial do Tio Sam é morto, o Coronel ordena que os mariners ataquem a multidão. Resultado da ação defensiva: 80 iemenitas mortos, entre mulheres, velhos e crianças. Isso lembra alguma coisa?
A segunda parte do filme é o tradicional tribunal, com o governo querendo condenar rapidamente o Coronel para acalmar os aliados árabes. O advogado de defesa, um velho amigo fracassado e pronto para se aposentar, resolve fazer o dever de casa e descobrir o que realmente aconteceu, para fazer um julgamento justo. Não vou contar o final do filme, mas quem já está acostumado com o cinemão hollywoodiano já deve imaginar o desfecho.
Apesar da defesa ser uma atitude justificada, já que a embaixada norte-ameircana estava sob fogo inimigo, o coronel escolheu, entre todas as possibilidades, a alternativa de contra-ataque mais extrema e brutal para vencer o inimigo. Na luta contra o mal, a "lógica da guerra" hollywoodiana admite que a vida de civis, mulheres e crianças inclusive, seja tirada para se atingir um objetivo maior. Parece que, infelizmente, o maniqueísmo preto-no-branco-bem-contra-o-mal artificial do cinema encontrou eco no mundo real. E com a triste constatação que, mais uma vez, a vida superou a arte.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Nada é por acaso

O conflito na Faixa de Gaza já está no seu vigésimo primeiro dia. Até agora, mas de mil palestinos e cem morreram. As baixas no lado de Israel foram de 14 pessoas. Enquanto a comunidade internacional continua pedindo um cessar-fogo, com pressões cada vez mais fortes por parte do ONU e com negociações diárias no Egito, o exército de Israel está intensificando os ataques e os bombardeios.

Analisando o conflito de trás para frente, sou da opinião de que o cessar fogo está próximo. Mas, provavelmente, não por causa da pressão internacional, das mortes de civis e das negociações de paz. O governo de Israel, na voz de sua ministra Tzipi Livni, já deixou claro que não negociará com o Hamas, um grupo que eles consideram terrorista e que está na lista no terror dos EUA.
O prazo final da ação israelense termimará, senão em 20 de janeiro, um pouco antes. A mesma data que Obama tomará posse. Parece que Israel escolheu dar início ao conflito exatamente na época que o Ocidente inteiro está em ressaca festiva, saindo do Natal e se preparando para a festa de ano-novo. Período em que a maioria dos governantes do lado ocidental do mundo tira férias.

Não custa lembrar que também neste período, os EUA, grande aliado de Israel e único país que poderia forçar um fim do conflito, estão sem cabeça e praticamente inoperantes. A administração Bush definhando e limpando as gavetas da Casa Branca, enquanto a equipe de Obama está preparando a festa da posse. Bush, ainda presidente, não deu nenhuma declaração oficial sobre o conflito. Obama, que ainda não assumiu o cargo, também não. Neste limbo político, o exército Israelense aproveitou para atingir seu objetivo: destruir a maior parte da infra-estrutura do Hamas.

Hoje, sexta-feira 16 de janeiro, a ministra Tzipi Livni está indo aos Estados Unidos um cessar-fogo. Provavelmente, o cessar-fogo será assinado. Se isso se confirmar, será um presente para George Bush, que conseguiu resolver o conflito no apagar das luzes do seu mandato, e um presente para Obama, que assumirá o cargo sem ter que lidar com uma guerra delicada, onde civis morreram a cada dia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Inimigo número 1

No dia 20 de janeiro, o mandato do inimigo número 1 de boa parte do mundo se encerrará. George Bush, o presidente norte-americano mais rejeitado dos últimos anos dentro e fora dos EUA, aposentará as chuteiras e passará o mandato de “homem mais poderoso do mundo” a Barack Hussein Obama.

Se para os ocidentais, americanos e europeus, assombrados pelos anos de miopia política e militar de Bush e pela economia mundial em crise, Obama representa uma nova esperança, para os antigos inimigos dos EUA Obama é, no mínimo, uma incógnita. Como odiar e atirar sapatos em um presidente recém eleito, negro e que ainda possui um sobrenome árabe?

Mas a ofensiva israelense na Faixa de Gaza terminou com as dúvidas de muitos regimes extremistas do oriente. Israel tomou novamente o lugar dos EUA como inimigo número 1 dos povos árabes. Permitiu, inclusive, que Hugo Chavez, combalido pela queda no preço do barril do petróleo de U$ 150 para aproximadamente U$ 40, voltasse à cena e tirasse a sua casquinha. O líder da revolução Bolivariana expulsou o embaixador de Israel da Venezuela, conquistando apoio e simpatia imediatos da população árabe. Além da publicidade mundial e de conquistar pontos como caudilho dos oprimidos, isso provavelmente ajudará Chavez a convencer seus parceiros nas negociações da OPEP, do qual faz parte como país produtor, na diminuição da produção de petróleo, visando um aumento do preço do barril.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

In the name of God


Estava programado que o ano de 2009 só começaria para valer depois de 20 de janeiro, dia da posse do presidente Obama. Mas então, infelizmente, a guerra estourou novamente em Israel e na Faixa de Gaza.
Em situações de guerra como essa, não existe muita coisa para entender ou compreender. O assunto é complexo demais. O máximo que se pode fazer é tentar entender os motivos que levaram a mais um acirramento nos confrontos entre judeus e palestinos.

No lado de Israel, o que motivou a guerra, foi o contínuo lançamento de foguetes por parte do Hamas em direção ao território judeu, desrespeitando o acordo de cessar fogo que se encerrou em 19 de dezembro. Israel está realizando a ofensiva para defender o seu território. No lado palestino, o que motivou o lançamento de foguetes é o bloqueio que Israel impôs à Faixa de Gaza, fechando suas fronteiras e impedindo a livre circulação de bens e mercadorias.
Até onde se pode entender pelas notícias que chegam, o objetivo de Israel é exterminar o Hamas do “governo” da Faixa de Gaza. O Hamas é um grupo extremista islâmico, que tomou o poder na Faixa de Gaza em junho de 2007 em um golpe militar, derrubando o Fatah, partido que governa o outro território palestino, a Cisjordânia, com o presidente eleito Mahmud Abbas. Não custa lembrar que o Hamas não reconhece o Estado de Israel, o que representa um grande passo atrás nos antigos acordos de paz negociados pelo falecido Arafat, e está na lista dos grupos terroristas dos EUA.

Os bombardeios, que destruíram vários prédios e causaram várias mortes, e a invasão de Gaza mostra que Israel não está para brincadeira e resolveu jogar pesado. O que agrava a situação é que território palestino está fechado. Ou seja, ninguém sai. Temos uma guerra acontecendo em um pedaço de terra pequeno, fechado e com 1,5 milhão de habitantes. Se a guerra chegar na Cidade de Gaza, e parece que é isso mesmo que vai acontecer em breve, o número de baixas civis deve subir consideravelmente.
A pobreza e a imagem de mulheres e crianças palestinas mortas sendo enterradas, resultados diretos e inevitáveis dessa ofensiva, é justamente o combustível mais forte para o extremismo, que abastece grupos como o Hamas, mártires homens-bomba e etc.
Essa é uma guerra onde não existem vencedores, só perdedores. E que, pior de tudo, não parece ter fim.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

High School Musical



Nesse fim de semana, em uma coletiva de imprensa no Iraque, o presidente Bush foi alvo de duas tentativas de sapatadas por parte do jornalista iraquiano Muntader al Zaid. Se para os ocidentais o gesto, apesar de agressivo, tem um lado de humor, para os árabes, é algo muito sério, uma das piores ofensas que se pode fazer a alguém.

A diferença de ponto-de-vista de um ato tão simples, a tentativa de sapatada, ajuda a deixar evidente a grande diferença que existe entre o ocidente e o Islã, E, por que não, a explicar porque os EUA continuam patinando na região.

Tentando imaginar o que passou na cabeça de Bush, Donald Rumsfeld e companhia quando decidiram invadir o Iraque, é bem provável que eles tenham pensado: “vamos vencer a guerra em uma semana, livrar o povo de um ditador sanguinário, ser recebidos como heróis pelos iraquianos e ganhar um grande aliado e uma grande vitrine da democracia no Oriente Médio”.

Lindo na teoria, mas complemente tresloucado na realidade. Realmente, eles venceram a batalha em poucos dias. (Na minha opinião, a guerra continua, já que, apesar de menores, os atentados continuam ocorrendo e a tensão entre xiitas, sunitas e curdos ainda reina no Iraque.) Mas esqueceram de um pequeno detalhe: e se o povo libertado não os recebesse como heróis?

Como algo que chega a ser óbvio para quase todo o resto do mundo não tenha sido cogitado pela alta cúpula dos EUA? Anos vislumbrando o modo de funcionamento da sociedade americana via enlatados, seriados e filmes permitem levantar a seguinte hipótese. Realmente, deve ser inconcebível para o “cara mais popular da escola”, que existam pessoas que não queriam ser “seus amigos”, “dançar com ele” e “copiar seu estilo de vida”. Ainda mais quando a “pessoa” em questão é uma das mais “feinhas, desengonçadas e pobrinhas” da escola.

Outro ponto falho do pensamento dos “falcões da liberdade de Bush” também parece óbvio. A democracia não é uma franquia do McDonald´s. Um negócio que você apresenta as regras, treina os parceiros, implanta o padrão e espera os lucros. Democracia é um conceito, político e cultural, com variações de país para país. E exatamente por ser o “governo de muitos”, não pode ser imposta. Tem que surgir das pessoas. Algo complicado, delicado e que precisa de várias forças conspirando a favor em qualquer lugar do mundo. Ainda mais em países com fortes vínculos tribais e onde várias etnias diferentes e não-simpatizantes foram obrigadas a conviver pela força de um poder central e ditatorial.

Em vez do sapatinho de cristal da princesa, o rei do baile deu adeus à festa recebendo de presente as sapatadas do torto que estava querendo “endireitar”. Que venha o Obama.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Juros sobre rodas

Depois do subprime, crise que se originou a partir dos empréstimos imobiliários, o outro grande sonho de consumo, o carro, começa a apresentar sinais de problemas. As três grandes montadoras americanas: GM, Ford e Chrysler estão em situação de quase falência.
Na Europa, o grupo Porsche recentemente comprou a Volkswagen, via aquisição de ações. E o presidente da FIAT, que luta para sair de uma crise, acaba de afirmar que a empresa só conseguirá sobreviver nos próximos anos se tiver um “parceiro”. Apenas uma maneira de dizer que a empresa deve ser vendida para um grupo maior.
O mercado automobilístico está enfrentando um terreno acidentado em todo o mundo. E no Brasil? No Brasil, as vendas e o lucro da GM, FIAT e Volkswagen crescem a cada ano. Chega a ser interessante essa situação.
Em um país onde os carros são caros, o crédito é caro e os impostos são altos, de 30 a 40% do valor do veículo, as montadoras prosperam. Nos USA, onde os carros são mais baratos, o crédito é mais barato e os impostos são menores, as empresas estão à beira do precipício.
Será que aqui as mesmas empresas do primeiro mundo desaprenderam como lucrar vendendo carros? Ou nossos executivos são os melhores do mundo? Ou a resposta pode estar nos financiamentos dos carros brasileiros, que cobram um percentual de juros por mês, entre 1 e 2%, que é bem próximo do que os equivalentes americanos e europeus costumam cobrar por ano? É de se pensar.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Pão e Petróleo

Uma semana depois de sofrer importantes derrotas e ver seus candidatos perderem em 4 dos 5 maiores colégios eleitorais da Venezuela, Hugo Chávez voltou a mostrar as suas garras. O líder bolivariano voltou a solicitar que seu partido novamente proponha a votação de emenda constitucional que permita a sua reeleição sem limites. O mesmo projeto que foi rejeitado ano passado por 50,7% dos venezuelanos.
O que motivou novamente a urgência de Chávez, que ainda detém 80% das regiões nas mãos do seu partido? O fortalecimento da oposição? Quem sabe, a resposta não está no número de votos, mas sim no valor do petróleo?
A Venezuela é um dos maiores produtores e exportadores de petróleo do mundo. Com o barril custando 150 dólares, como há poucos meses atrás, Chávez tinha dinheiro de sobra para financiar todos os seus projetos revolucionários: assistencialistas, armamentistas e estatizantes. Hoje, com o petróleo custando 50 dólares o barril e sem sinal de aumento, talvez as contas do presidente talvez não sejam tão fáceis de fechar. Nem seja tão simples impor a sua vontade.
Será que a população continuaria a apoiar maciçamente o presidente se a economia começasse a mostrar sinais de debilidade?