quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

High School Musical



Nesse fim de semana, em uma coletiva de imprensa no Iraque, o presidente Bush foi alvo de duas tentativas de sapatadas por parte do jornalista iraquiano Muntader al Zaid. Se para os ocidentais o gesto, apesar de agressivo, tem um lado de humor, para os árabes, é algo muito sério, uma das piores ofensas que se pode fazer a alguém.

A diferença de ponto-de-vista de um ato tão simples, a tentativa de sapatada, ajuda a deixar evidente a grande diferença que existe entre o ocidente e o Islã, E, por que não, a explicar porque os EUA continuam patinando na região.

Tentando imaginar o que passou na cabeça de Bush, Donald Rumsfeld e companhia quando decidiram invadir o Iraque, é bem provável que eles tenham pensado: “vamos vencer a guerra em uma semana, livrar o povo de um ditador sanguinário, ser recebidos como heróis pelos iraquianos e ganhar um grande aliado e uma grande vitrine da democracia no Oriente Médio”.

Lindo na teoria, mas complemente tresloucado na realidade. Realmente, eles venceram a batalha em poucos dias. (Na minha opinião, a guerra continua, já que, apesar de menores, os atentados continuam ocorrendo e a tensão entre xiitas, sunitas e curdos ainda reina no Iraque.) Mas esqueceram de um pequeno detalhe: e se o povo libertado não os recebesse como heróis?

Como algo que chega a ser óbvio para quase todo o resto do mundo não tenha sido cogitado pela alta cúpula dos EUA? Anos vislumbrando o modo de funcionamento da sociedade americana via enlatados, seriados e filmes permitem levantar a seguinte hipótese. Realmente, deve ser inconcebível para o “cara mais popular da escola”, que existam pessoas que não queriam ser “seus amigos”, “dançar com ele” e “copiar seu estilo de vida”. Ainda mais quando a “pessoa” em questão é uma das mais “feinhas, desengonçadas e pobrinhas” da escola.

Outro ponto falho do pensamento dos “falcões da liberdade de Bush” também parece óbvio. A democracia não é uma franquia do McDonald´s. Um negócio que você apresenta as regras, treina os parceiros, implanta o padrão e espera os lucros. Democracia é um conceito, político e cultural, com variações de país para país. E exatamente por ser o “governo de muitos”, não pode ser imposta. Tem que surgir das pessoas. Algo complicado, delicado e que precisa de várias forças conspirando a favor em qualquer lugar do mundo. Ainda mais em países com fortes vínculos tribais e onde várias etnias diferentes e não-simpatizantes foram obrigadas a conviver pela força de um poder central e ditatorial.

Em vez do sapatinho de cristal da princesa, o rei do baile deu adeus à festa recebendo de presente as sapatadas do torto que estava querendo “endireitar”. Que venha o Obama.

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