segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Celebridades puxando nossas orelhas

Vendo alguns dos comerciais premiados de Cannes este ano, percebi algo interessante. Vários comerciais usavam músicas famosas. Inclusive, dois dos meus comerciais preferidos tinham músicas famosas, interpretadas pelos próprios artistas, como trilha. 

Até aí, nada demais. Já que o uso de canções conhecidas pode ser considerado mais uma fórmula que uma grande estratégia criativa. Mas, quando o som daquela banda conhecida é bem escolhido e usado de maneira pertinente, como foi em Cannes, a peça ganha a um outro nível de eficiência e sucesso: com os publicitários e com o próprio público. 

Uma das respostas para isso pode estar em uma frase de Tonny Bennett, citada em uma palestra no mesmo festival de Cannes: "a música é a mais acessível das artes. Vai direto ao coração". Usando o Tonny, dá para dizer que o uso de músicas de sucesso nos comerciais pode ser definido como um "aluguel de emoção". 

Pegue todas as emoções que uma música conhecida faz as pessoas sentirem, a lembrança dos momentos especiais e a relação que os fãs têm com seus ídolos, misture e transfira tudo para a marca do anunciante. Esse é o poder que uma música que já está na memória e faz parte da vida tem. O melhor exemplo disso são dois comerciais que ganharam Leão de Ouro este ano. 

O novo comercial da linha de TVs Sony Bravia, leão de ouro no festival, tem nada mais nada menos que os próprios Rolling Stones cantando "she´s a rainbow". O Gran Prix desse ano, o Gorila para a marca de chocolates Cadbury, tem como trilha uma música do Phil Collins. 

Na minha opinião, o comercial da Sony deste ano superou o comercial do ano passado, aquele onde um prédio inteiro era pintado por explosões de cores. E que, inclusive, chegou a rolar com uma versão sem áudio, tamanha era a força da imagem. Apesar das imagens dos coelhos coloridos de massinha ser igualmente poderosa, provavelmente o comercial não teria a mesma força sem a música dos Stones, que além de dar clima ao filme, se encaixa perfeitamente com o conceito da marca: colors like no other.



 

       O filme da Cadbury, vai ainda mais longe. Um gorila baterista tocando Phil Collins? Bizarro. Por que Phil Collins? Porque o cara é pop. Porque é famoso. E porque hoje, com quase absoluta certeza, é considerado brega e bizarro pela maioria dos jovens que foram público-alvo da campanha. O mesmo público que, provavelmente, deve ter visto no cinema quando criança o desenho Tarzan da Disney, o menino criado na selva por ninguém menos que gorilas. Com uma música tema ganhadora do Oscar composta por um senhor chamado Phil Collins. Novamente, bizarro, muito bizarro. São tantas camadas de informação que, arrisco a dizer que se a trilha sonora do filme da Cadbury não fosse uma música do Phil Collins, ele não teria feito tanto sucesso, corrido o mundo via internet e talvez não tivesse pegado nem short-list em Cannes. 




Deixando o preconceito de lado, os comerciais com canções famosas podem ir muito além do clipe de imagens bonitas com pessoas felizes. Em vez do mico de usar essa velha fórmula, o melhor é pensar no gorila e escolher a trilha do seu próximo comercial com carinho.

Um comentário:

Patrick disse...

Adivinha qual instrumento o Phil tocava na época do Genesis?